Em mais um estudo sobre a Matemática no Continente Africano, vamos conhecer um pouco sobre os Adinkras, que são símbolos gráficos encontrados em Gana
Em mais um estudo sobre a Matemática no Continente Africano, vamos conhecer um pouco sobre os Adinkra (fala-se no singular), que são símbolos gráficos encontrados em Gana e Costa do Marfim.
Cada vez mais que estudamos sobre a África, conseguimos compreender que o continente possui uma belíssima história de muita sabedoria, e que o berço da humanidade é, além do fruto de nossas origens, seja como seres humanos, como civilizações, mas também na cultura, arte, culinária e religião, é muito além disso, pois África é berço e desenvolvimento da escrita, dos números, da Matemática, da astronomia, da engenharia, da metalurgia, da medicina, da agricultura, da política, do direito, das confecções, entre diversas outras contribuições para o desenvolvimento da humanidade.
Apesar do eurocentrismo querer diminuir o conhecimento dos povos africanos somente como uma cultura oralizada (que é riquíssima!), a escrita, os números e o conhecimento científico sempre foram fortes em África, desde a antiguidade.
Em nosso blog, já estudamos sobre algumas culturas que envolvem a Matemática, conforme citadas abaixo:
Também, aos poucos, vamos compartilhando conhecimentos sobre os países do continente.
Agora, vamos conhecer os Adinkras.
Afinal, o que são Adinkra?
Adrinkra é um conjunto de símbolos constituídos por um conjunto de ideogramas, ou seja, são símbolos gráficos que representam palavras e ideias expressas em provérbios. Lembrando que em África, existiram e existem diversos sistemas de escritas, além dos conhecidos hieróglifos egípcios, no qual a cultura eurocêntrica insiste em separar Kemet (antigo Egito) de África.
Os Adinkra surgiram na África Ocidental com os povos acã, principalmente com os asante (proveniente do antigo Império Axante) de Gana, que hoje abrange parte dos territórios dos países Gana e Costa do Marfim, com Nana Kofi Adinkra, que reinou no século XIX e que, com seu povo, desenvolveu grafismos estampados em tecidos.
Adinkra significa “adeus” ou “adeus à alma”, em que as pessoas usam os tecidos estampados em ocasiões fúnebres e em festivais de homenagem a pessoas importantes. Além das estampas em tecidos, os símbolos são esculpidos em peças de ferro ou bronze, usadas para pesar ouro, sal e outras mercadorias. Também, os símbolos Adinkra são talhados em bancos reais, em peças de madeira que anunciam a soberania dos reinos e suas linhagens, na cerâmica e na arquitetura.
Tradicionalmente, os Adrinkra são estampados com tinta vegetal em tecidos de algodão. Além da tradição estética, os símbolos transmitem aspectos da história, filosofia e valores culturais ancestrais do povo acã e asante. Os ideogramas se baseiam em diversas figuras, seja de plantas, animais, corpo humano, corpos celestiais, objetos feitos pelos humanos em formas abstratas. É uma cultura ligada aos ancestrais.
Existem mais de 90 símbolos Adinkra, sendo o Sankofa o mais conhecido. Sankofa, o símbolo com um pássaro olhando para trás, significa aprender com o passado para construir o presente e o futuro. O símbolo transmite a ideia do provérbio “nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás”.
Em uma de suas simbologias, os Adinkra também são utilizados no Kwanzaa, uma celebração originária nos Estados Unidos (criado por Maulana Karenga em 1966) e hoje celebrada em diversos países, tanto no Brasil quanto em países do continente africano. Entre as celebrações em África, existem os Festivais do Inhame em Gana e Nigéria. Kwanzaa não é uma comemoração religiosa ou política, assim como não é um natal africano (como muitas pessoas pensam). É uma comemoração reflexiva e cultural, comemorada por 7 dias (26 de dezembro à 01 de janeiro), através da valorização de 7 princípios: unidade, autodeterminação, trabalho coletivo com responsabilidade, cooperação econômica, propósito, criatividade e fé.
Simetria nos Adinkra
Simetria é quando duas partes de algo (elemento, objeto, desenho, etc.) são divididos ao meio, e essas partes possuem as mesmas medidas, ou seja, as duas partes são iguais.
É um conceito muito utilizado na Matemática (principalmente na Geometria), mas também na arte, natureza, biologia, arquitetura, entre outros.
O eixo de simetria é uma linha real ou imaginária, que atravessa o centro da figura e divide em duas partes.
A figura 2 apresenta ilustrações de figuras simétricas que na simbologia Adinkra representam, respectivamente, proteção materna, amor e unidade no pensamento.
A palavra simetria tem origem grega, no qual syn = junto + metron = medida, significando “mesma medida”.
Em livros didáticos e materiais da internet sobre o assunto, além da origem do nome, encontramos a origem e aplicações da simetria somente na Grécia Antiga, seja na Geometria ou nas diversas construções da época, dando um sentido de ordem, harmonia, beleza e perfeição.
Assim como os cálculos matemáticos e diversas figuras geométricas, a simetria também surgiu na África. Em Kemet (“Terra Preta” ou “Povo Preto”, nome original do Antigo Egito), assim como a Matemática e a Geometria, a simetria também foi estudada e apropriada pelo povo grego, inclusive na arquitetura.
Em Kemet, os templos, palácios, pirâmides, esfinges, casas, jardins, estátuas, pinturas, anéis, amuletos, entre outros, foram feitos por meio do Ma’at (harmonia, que mostravam a dualidade como o dia e noite, masculino e feminino, luz e escuridão), ou seja, foram feitos com o equilíbrio da simetria. Quando era feito um obelisco, também era feito um gêmeo idêntico para se terem reflexões divinas nas terras dos deuses. Os pátios dos templos foram centrados em torno de um eixo que levava do santuário a entrada do templo, assim refletindo a criação, o ma’at (deusa da verdade e justiça), a heka (magia) e a vida após a morte com a perfeição da simetria iniciada pelos deuses.
Em outro exemplo, a Paleta de Narmer (placa cerimonial de dois lados) foi esculpida com cenas da unificação do Alto e do Baixo Egito pelo Faraó Narmer. A simetria aparece na composição que apresenta as cabeças de quatro touros (símbolo de poder) no topo de cada lado e a representação equilibrada das figuras que contam a história.
Voltando ao tema, existe a simetria axial ou simetria de reflexão, que possui a presença de um eixo de simetria ou eixo de reflexão, que funciona como se fosse um espelho, ou seja, é a simetria dada a uma imagem espelhada.
Nas figuras 3 e 4, alguns exemplos de simetria de reflexão nos símbolos Adinkra. Na figura 3, a imagem da direita é formada a partir da simetria de reflexão em torno do eixo x (horizontal). Na figura 4, a imagem da direita é formada a partir da simetria de reflexão em torno do eixo y (vertical).
A figura 5 mostra três símbolos Adinkra com simetrias de reflexão, uma em torno do eixo x, outra em torno do eixo y, e outra em torno da origem.
Também, existe a simetria de rotação, também conhecida como simetria central e simetria radial, que consiste em rotacionar um objeto ao redor de um ponto, sendo que cada rotação tem um centro e um ângulo.
A Figura 6 mostra três símbolos Adinkra com simetrias de rotação em torno da origem.
Alguns símbolos Adinkra não possuem simetria, porém, possuem grande beleza geométrica. Veremos alguns exemplos na figura 7.
Grande abraço e bons estudos!
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