África é o berço da humanidade e foi lá que o ser humano inventou a Matemática.
África é o berço da humanidade e foi lá que o ser humano inventou a Matemática, o fogo, a escrita, a astronomia, o calendário, a engenharia, a medicina, a filosofia, entre diversos outros ramos da ciência e do conhecimento humano.
Reino do Zimbábue ou Grande Zimbábue |
Também, o continente é território de diversos, ricos e poderosos reinos e impérios. Assim, podemos afirmar que somos descendentes de rainhas, reis, e de pessoas que realizaram os grandes feitos citados acima. Já pensou a autoestima de uma criança preta ouvindo e aprendendo sua história de uma forma correta? Geralmente, nossas crianças ouvem que são descendentes de pessoas escravizadas, sendo que a história da escravização dos povos africanos equivale a no máximo 5% da história da África, mas como o eterno projeto de poder, só essa história é contada. Aproveitando, o mais rico e poderoso império da história da humanidade também é africano, o imponente Império do Mali, e consequentemente, o ser humano mais rico da história foi o imperador ou rei desse Império, o Mansa Musa.
Neste texto, conheceremos o Reino do Zimbábue, também conhecido como Grande Zimbábue, que assim como o Império do Mali, também foi muito rico em ouro e comandou uma rica rota comercial, mas do outro lado do continente africano e em menor proporção. Perceberemos que, as tecnologias utilizadas ao longo dos tempos, assim como o comércio e a manutenção das sociedades, exigiram conhecimentos matemáticos cada vez mais complexos, mesmo não sendo citados esses conhecimentos.
República do Zimbábue (ou Zimbabwe, na língua shona) é um país do sul da África sem saída para o mar. Sua capital é Harare, o país possui área com mais de 390 mil km² e mais de 15 milhões de habitantes. A língua oficial é o inglês, seguidos pelo shona e sindebele. A grande maioria da população é formada por etnias de raiz bantu. Os principais grupos étnicos são os shonas (71% dos habitantes) e os nedebeles (16%).
Com muitos rios, o Zimbábue possui uma das maiores reservas de água da África e exuberantes belezas naturais. O rio Zambeze abriga as famosas Cataratas Vitória (considerada uma das maiores maravilhas naturais do mundo, na divisa com o Zâmbia), que formam uma cortina de água com cerca de 1.708 metros de largura e 122 metros de altura. Além do Zambezi e do Limpopo, outros rios importantes são o Sabi e o Shangani.
Zimbábue significa “casa de pedra” na linguagem shona, devido ao Reino do Zimbábue (séculos XI ao XV), um reino com uma arquitetura magnífica feita de pedra, conhecida como Muralha do Grande Zimbábue, que contém um valor histórico (semelhante as Pirâmides do Egito, Machu Picchu e a Grande Muralha da China), cultural e arqueológico, impressionantes. O Monumento Nacional do Grande Zimbábue foi designado Patrimônio Mundial da UNESCO em 1986.
Mais para o sul, no litoral da África Austral, onde na atualidade estão situados Moçambique e o Zimbábue, floresceu a mais extraordinária e também a mais enigmática civilização africana. Seu território era ocupado pelas populações da comunidade linguística banto conhecidas como shonas. (MACEDO, 2020, p. 36)
Ainda de acordo com Macedo (2020, p. 37), “ficou provado que se tratava de uma criação genuinamente negro-africana, sem qualquer influência exterior.”
Silva (2021, p. 21) diz que o Grande Zimbábue, na língua shona, significa dzimba dzemabwe, ou “casas de pedra”, ou também dzimba woye, que significa “casas veneradas”. Assim como dzimbawe significa “corte”, “casa de chefe” ou “túmulo de chefe.”
Os povos bantos chegaram na metade do primeiro milênio da era comum, entre os rios Zambeze e Limpopo, e trouxeram a metalurgia, a agricultura e o pastoreio. A cultura do povo banto ainda era resquício da Idade do Ferro, e foi contrastada na região com os povos caçadores e coletores (o povo San, o grupo social mais antigo do planeta) do fim do Neolítico. Com o passar do tempo, a cultura foi substituída pelas novas sociedades principalmente nos séculos XI e XII, e entre elas, Leopard’s Kopje (Colina do Leopardo), a mais conhecida. Assim, houve o avanço da agricultura, metalurgia, mineração de ouro e cobre, criação de gado e as trocas comerciais.
Os grupos da cultura de Leopard’s Kopje conheciam o ferro e com ele faziam pontas de flecha, enxadas de lâminas simples, contas e braceletes. Usavam miçanga de vidro, importadas do litoral, e adornos de fio de cobre entrançado. (SILVA, 2021, p. 13)
Com o passar do tempo surgiram diversas outras sociedades na região dos rios Zambeze e Limpopo, e essas sociedades aumentaram o contato com outras no litoral do Oceano Índico, ampliando o comércio e a mineração do ouro. A região do atual Zimbábue era muito rica em cobre e ouro, existindo milhares de minas, principalmente de ouro. E entre essas sociedades, surgiu a mais fantástica delas e a mais fantástica sociedade africana (depois do Egito), conhecida como Reino do Zimbábue ou Grande Zimbábue.
As célebres ruínas do Grande Zimbábue, perto da moderna cidade de Masvingo, simbolizam uma das partes mais notáveis dessas transformações. Elas são famosas tanto pela excelência de sua arquitetura quanto pelas teorias extravagantes que cercam sua origem. Hoje, todos os estudiosos sérios consideram que o Grande Zimbábue foi uma realização essencialmente africana, construído com material local e segundo princípios arquitetônicos desenvolvidos durante séculos. (SILVÉRIO, 2012, p. 524)
A estrutura do Grande Zimbábue é a maior entre as mais de 150 sociedades existentes entre os rios Zambeze e Limpopo. As casas eram feitas de pau a pique, daga (um cascalho misturado) e argila vermelha ou amarela, com muros e paredes muito bem feitas e com grande resistência às condições climáticas, sobrevivendo a séculos após o declínio do reino, que na época do seu apogeu chegou a 250 casas reais e outras de vários andares, e uma população de 20 000 habitantes.
No conjunto, primeiro aparece o Grande Cercado, uma enorme fortificação de forma esférica com 2,5 km de perímetro e eixo central correspondente a cerca de 1 km. A muralha foi erguida com a sobreposição de inúmeros blocos de pedra, sem argamassa, e mede 10 m de altura. Em seu interior, em forma de zigue-zague, encontram-se duas torres cônicas que medem também 10 m de altura e recebem o nome de Templo Elíptico. (MACEDO, 2020, p. 37)
Próximo ao Grande Cercado (Great Enclosure), elevaram um conjunto de muralhas, uma colossal fortificação, chamada Acrópole (Acropolis Hill), que, de acordo com Macedo (2020, p. 37) “constituindo o testemunho visível do poder alcançado pelos governantes de um Estado poderoso que exerceu sua hegemonia na região situada entre os rios Zambeze e Limpopo.” Essa muralha abrigava os poderosos, dividindo-se em dois grandes recintos, o da extremidade ocidental (cercado por um anel de pedra com 9 metros de altura e cerca de 14 cabanas circulares) e o da extremidade oriental (onde eram realizados os rituais sagrados em homenagem aos ancestrais), em que Oliver (1994, p. 130) diz que “cria uma atmosfera de magnificência única na África.”
Essa grande muralha elíptica de pedra – a maior estrutura da África Subsaariana, anterior aos europeus – possui 240m de circunferência, com 5,10m de espessura média na base, e altura média de 7,20m. Nela, abrem-se apenas três entradas (ao norte, ao oeste e ao nordeste), que seriam talvez cobertas por alpendres de madeira. (SILVA, 2021, p. 13)
As divinas estatuetas de pedra-sabão, os Pássaros do Zimbábue (que hoje encontra-se na bandeira do país), encontradas dentro das ruínas são um testemunho que o local era utilizado para culto desde o passado antigo até os dias atuais. O poder central era controlado por sacerdotes e chefes que faziam o culto do Mwari (deus), com sacrifícios dedicados aos ancestrais, numa grande e poderosa autoridade política e religiosa.
O poder do reino foi baseado tanto na religiosidade quanto no comércio. O Grande Zimbábue fazia parte de uma grande e rica rede de comércio global. A elite controlava o comércio ao longo da costa leste da África, principalmente os minérios com os comerciantes árabe-muçulmanos e mercadores das cidades da costa do Oceano Índico.
Muitos dos reis e chefes secundários desse império construíram seus próprios “Zimbábues” menores, baseados nas estruturas exibidas na capital. O poder desse Estado e de seus reis repousava no controle do ouro e do marfim, duas das principais mercadorias do comércio de luxo em todo o mundo do Oceano Índico. (FOURSHEY, GONZALES e SAIDI, 2019, p. 63)
Além da mineração e o comércio do ouro e marfim, tinham artesãos especializados nos trabalhos com cobre e ferro, além de ourives, escultores, oleiros e tecelões. A agricultura era intensa na região, assim como o pastoreio. Tecidos, cerâmica (com destaque aos vasos pintados com diversas cores) e lingotes de cobre também eram tradicionais. Entre as trocas comerciais, entravam no Grande Zimbábue, tecidos coloridos da Índia, moedas árabes, pérolas, cerâmica, vidro e porcelana da China, da Pérsia e da Síria, além de artigos de luxo.
Sem a menor dúvida, a riqueza dos senhores do Grande Zimbábue cresceu e declinou acompanhando as fortunas do tráfico costeiro. Assim, o Grande Zimbábue havia contribuído, através dos contatos comerciais e do ouro que produzia, para a prosperidade e crescimento econômico não somente da costa da África Oriental, como de terras muito mais distantes. (SILVÉRIO, 2012, p. 526)
No século XV, o reino começa a perder suas forças, e assim, sendo abandonado. Entre as teorias, o grande crescimento populacional fez o Estado entrar em colapso, constituindo em falta de água e declínio da agricultura, no que também a mosca tsé-tsé (causadora da doença do sono) adentra as muralhas e começa a dizimar os gados.
Por mais que fossem bons o clima e o terreno, havia gente demais, ... Os pastos foram sendo destruídos pelo excesso de gado. Os solos, esgotados pela continuidade das lavouras. As matas, arrasadas para a obtenção de lenha. A caça, expelida para longe. A exaustão ecológica tornara o Grande Zimbábue extremamente vulnerável. Qualquer crise – o malogro seguido de duas ou três colheitas, a falta de chuvas, a interrupção do comércio, uma epidemia – era capaz de abalar-lhes os fundamentos. (SILVA, 2021, p. 23)
Assim, tanto a população quanto o soberano do Grande Zimbábue, na metade do século XV, começa a abandonar o local a procura de outras terras. De acordo com Oliver (1994, p. 130), “quando, em algum momento por volta de 1450, a hegemonia da Grande Zimbábue foi derrubada pela dinastia dos Mwenemutapa”, controlando o poder econômico do local, pelo governante denominado Mwene Mutapa, “o senhor das minas”, “o senhor dos cativos”, “o senhor dos metais”, “o senhor de tudo”, “o senhor de todos os vencidos na guerra”, “o senhor das terras desvastadas”. Assim, surgiu o Império Monomotapa, dominando não só o Grande Zimbábue mas também as outras sociedades vizinhas, conhecidas como pequenos Zimbábues, e depois abrangendo os territórios do Zimbábue, Moçambique, Malauí e África do Sul. Na metade do século XVI, a região foi dominada pelos portugueses, e no século XVII, dominada pelo novo e poderoso império zimbabuano, também do povo shona, o Império Rozwi, que dominou as regiões do Zimbábue, África do Sul e Botsuana, desintegrando no século XIX com o imperialismo, principalmente com o domínio inglês.
Por meio da história dos reinos e impérios africanos (que inclusive possuem diversos dados matemáticos), assim como o desenvolvimento das tecnologias e apresentando a riqueza das rotas comerciais, podemos ensinar Matemática de uma forma diferente, no qual nossos estudantes conhecerão a história de nossos ancestrais, que são escondidas dos livros didáticos.
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Referências
Fourshey, Catherine Cymone; Gonzales, Rhonda M.; Saidi, Christine. África Bantu: de 3500 a.C. até o presente. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
Macedo, José Rivair. História da África. São Paulo: Contexto, 2020.
Munanga, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações. São Paulo: Gaudi Editorial, 2012.
Oliver, Roland. A experiência africana: da pré-história aos dias atuais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
Silva, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses: Volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2021.
Silvério, Valter Roberto. Síntese da coleção História Geral da África: Pré-história ao século XVI. Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2012.
Muito bom! Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado, professor!
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