Shisima é um jogo que envolve estratégia, antecipação e raciocínio lógico, por meio do alinhamento de três peças.
África é o berço da humanidade e foi nesse continente que os humanos inventaram e desenvolveram a Matemática, a escrita, o fogo, a astronomia, o calendário, a filosofia, a medicina, a engenharia, entre diversos outros ramos do conhecimento humano e da ciência. Consequentemente, os jogos também surgiram em África e possuem registros de sua utilização desde a antiguidade.
Jogo Shisima |
Já vimos neste blog um artigo sobre o Mancala, uma denominação genérica de aproximadamente 200 jogos diferentes, ou, como se costuma dizer, uma família de jogos. Originário da África, onde teria surgido por volta do ano 2 000 a.C. (para alguns o jogo tem mais de 7 000 anos), é considerado por muitos como o jogo mais antigo do mundo, porém, não há registros de sua origem. Alguns pesquisadores dizem que o jogo surgiu em Kemet (Antigo Egito) entre 3 500 a 4 000 anos, e outros dizem que surgiu na Etiópia.
Variação de um jogo da família Mancala |
Agora, conheceremos o jogo chamado
Shisima, oriundo do Quênia,
um país localizado na África Oriental, que possui área com mais de 582 mil km²
e com uma população em mais de 45 milhões de habitantes. República do Quênia
faz parte dos Grandes Lagos Africanos, região considerada o berço da
humanidade, a origem dos primeiros seres humanos. É banhado pelo Oceano Índico,
e é famoso por belas paisagens naturais, como praias, safáris e diversas
reservas ricas na fauna e flora, que faz do turismo a principal fonte de renda
do país. Sua capital é Nairóbi, a moeda é o Xelim Queniano, e o país faz divisas
com Sudão do Sul, Etiópia, Somália, Tanzânia e Uganda. A língua oficial é o
suaíle, seguida pelo inglês, quicuio e luo. Tem grande variedade de grupos
étnicos, entre os quais se destacam os quicuios (21%), os luias (14%), os luos
(13%), os cambas (11%) e os calenjins (11%).
O povo Tiriki, inventor do jogo Shisima, pertence a uma das 19 comunidades do povo Luia, um grupo de línguas Bantu localizados na região oeste do Quênia, na divisa com Uganda, entre o Monte Elgon (Quênia) e o Lago Vitória (Uganda). Os Luias habitam regiões do Quênia (com mais 6 milhões de habitantes), Uganda e Tanzânia (com mais de 10 milhões de habitantes abrangendo os dois países). A palavra Luia possui alguns significados, como “o norte”, “povo do norte” e “aqueles do mesmo coração”.
Cada comunidade Luia
fala uma língua, e os Tiriki falam a língua Lutirichi. É o segundo maior grupo
étnico do Quênia, abrangendo cerca de 14,35% da população.
O povo Tiriki migrou do
Monte Elgon e está localizado no distrito ou condado de Vihiga, principalmente
em Hamisi, região oeste do condado, na província ocidental do Quênia. Vihiga é
lar de algumas comunidades do Quênia, e entre as principais estão os povos
Tiriki, Banyore, Terik e Maragoli, que contribuem para a rica cultura da
região. O nome Tiriki é derivado do povo Terik, pois adotaram os mesmos rituais
de circuncisão, assim como o nome refere-se a sua localização geográfica.
Os Tiriki possuem alguns clãs: Bhikhava, Balukhoba, Bahaliero, Bajisinde, Baumbo, Bashistungu, Bamabi, Bamiluha, Balukhombe, Badura, Bamayuda, Bamuli, Basamia, Barimbuli, Baguga, Basaniaga, Banyonji, Bamoiya e Basuba.
Entre todas as comunidades Luia, o povo
Tiriki é famoso pelas suas cerimônias de circuncisão com máscaras e pinturas
corporais bem elaboradas. Essas cerimônias são conhecidas como ITUMII (para
significar um segredo), que é um rito de passagem dos meninos para a fase
adulta, onde passam um mês na floresta aprendendo os valores da comunidade. A
cerimônia, realizada no mês de agosto a cada cinco anos, inicia-se com uma
dança, atraindo multidões. Os iniciados são treinados em diversos temas, como
cuidar da família, alimentação, orações, tradições e questões de segurança. O
casamento é uma instituição sagrada, vinculada aos valores tradicionais dos
Tiriki.
No território em que moram os Tiriki, na
região de Kaimosi, é também o lar da educação no oeste do Quênia, com algumas
escolas famosas como o Kaimosi Friends Primary School (a escola formal mais
antiga do Quênia), a Kaimosi Teacher Training College, o Kaimosi Theological
College, o GBS (Girls Boarding School), o Kaimosi Friends Technical College, a
Kaimosi Special School e a Kaimosi University.
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O jogo Shisima
Shisima é um jogo que envolve estratégia, antecipação e raciocínio
lógico, por meio do alinhamento de três peças. Jogado na parte ocidental do
Quênia pelas crianças, é desenhado o tabuleiro na areia e jogam com pedras ou
tampinhas de garrafa. Na língua Tiriki, a palavra Shisima quer dizer “extensão
de água”. Eles chamam as peças de “imbalabavali” ou “pulgas d’água”. É jogado
por duas pessoas, foi criado por meio da observação das pulgas d’água sobre a
superfície das lagoas. As pulgas d’água movimentam-se tão rapidamente que é
difícil acompanhá-las com o olhar. No jogo, as pedras se movimentam no
tabuleiro com rapidez. Este jogo é semelhante as estratégias utilizadas no
“jogo da velha”, mas tenta-se impedir que o adversário alinhe suas peças em uma
das diagonais do tabuleiro octogonal (oito lados).
Por meio
da construção do tabuleiro, é possível trabalhar com as propriedades da
Geometria (ângulos, tipos de retas, medidas, arestas, vértices, triângulos,
raio e diâmetro), sua origem e desenvolvimento no Antigo Egito, figuras planas
e o octógono, um polígono formado por 8 lados e 8 vértices.
Regras do Jogo
1. Cada
jogador, na sua vez, coloca as peças no tabuleiro, sendo três de cada lado.
2. Em
seguida, depois de distribuída as peças, mexe uma delas em linha reta, até o
próximo ponto vazio. Cada jogador fará o mesmo na sua vez.
3. Os
jogadores devem ficar atentos, pois não é permitido saltar por cima de uma
peça.
4. O
objetivo é que o jogador alinhe suas três peças em uma reta.
5. O
primeiro jogador que alinhar as três peças ganha o jogo.
6. Quando
a sequência de movimentos se repetir por três jogadas, o jogo acaba empatado,
não havendo vencedor.
Ao jogar, é possível identificar que
o/a jogador(a) que ocupa a posição central do tabuleiro tem mais chance de
vencer, fazendo com que a movimentação das peças seja feita de maneira
estratégica e tentando antecipar as jogadas. Além da Geometria e do raciocínio
lógico, é possível apresentar a História da Matemática, o país Quênia e as
tradições do povo Tiriki, assim, nossos estudantes conhecerão outros
territórios e outras culturas, percebendo que seus ancestrais sabem fazer Matemática,
legitimando socialmente os seus saberes.
Trabalhando
com os jogos matemáticos originários do continente africano, além do êxito nas
aprendizagens, ainda se descoloniza o currículo eurocêntrico estrutural tão
cristalizado em nosso país. Corrobora a Matemática como uma produção da
humanidade, originada e desenvolvida em África pelos nossos ancestrais, fazendo
com que os estudantes se enxerguem como sujeitos que também sabem fazer Matemática,
por meio de sua forma de calcular, de pensar, de comparar e de medir, conforme
abordado no Programa Etnomatemática, abrangendo também a Afroetnomatemática.
😀
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