Já sabemos que África é o berço da humanidade, da tecnologia, da astronomia, da medicina, da filosofia e das ciências em geral.
Já sabemos que África é o berço da humanidade, da tecnologia, da astronomia, da medicina, da filosofia e das ciências em geral. Não só o berço, mas também território de desenvolvimento desse e de outros ramos do conhecimento humano. Em nosso livro “A Origem Africana da Matemática”, detalhamos bem todo o processo histórico da chamada Rainha das Ciências.
1- Tabuleiro de Senet: Amenófis III (1390-1353 a.C.). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Gaming_Board_Inscribed_for_Amenhotep_III_with_Separate_Sliding_Drawer,_ca._1390-1353_B.C.E.,49.56a-b.jpg. Autor: Fundo Charles Edwin Wilbour. Acesso em: 02/08/2024. |
África também é berço dos jogos matemáticos ou jogos de tabuleiro. Muita gente diz que o Mancala (uma família de jogos) é o 1º jogo de tabuleiro do mundo, oriundo da Etiópia ou Egito há 7 mil anos. Porém, apesar da importância dos jogos de Mancala, não há registros de sua origem.
Senet é o 1º jogo registrado da história (há mais de 5 mil anos), portanto, o mais antigo da humanidade. Assim como os jogos de Mancala e outros jogos africanos, o Senet é envolvido numa filosofia e um corpus de conhecimento, nesse caso, do povo de Kemet (Terra Preta, Povo Preto, ou Terra do Povo Preto; nome original do que conhecemos como Egito) território que originou o jogo.
República Árabe do Egito é um país localizado no nordeste da África (em sua maior parte), e outra parte no sudoeste da Ásia (a península do Sinai, um deserto arenoso no norte e montanhoso no sul). Sua capital é Cairo (a maior cidade do continente africano) e o país faz divisas com a Líbia, Sudão, Faixa de Gaza e Israel, banhado pelo Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho. O Rio Nilo é o mais extenso do mundo com aproximadamente 6 695 km.
Nascimento (2008, p. 62), ao argumentar sobre Kemet, diz que “além de dar à luz a humanidade, África foi também o palco da primeira revolução tecnológica da história: a passagem da colheita de frutos silvestres à agricultura”. As contribuições keméticas para o desenvolvimento da humanidade se encontram numa lista extensa: na Matemática, química, medicina, engenharia, odontologia, filosofia, farmácia, política, têxteis, literatura, direito, urbanismo, dramaturgia, vidro, roda, navios, criação de gado, agricultura, metalurgia, publicidade, cerveja, vinho, calendário (com 12 meses de 30 dias cada, com mais 5 dias no final do ano), papiro, tinta, caneta, escrita fonética, número (inclusive o sistema de numeração decimal), entre diversos outros ramos do conhecimento humano.
2- Tabuleiro de Senet: Tutancamon. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Senet_game_pieces_(Tutankhamun).jpg. Autor: ddenisen (D. Denisenkov). Acesso em: 02/08/2024. |
Senet ou Senet Net Hab significa “jogo de passagem” ou “jogo de passagem da alma para o outro mundo”, simbolizando a luta da alma contra o mal na transição da alma na vida após a morte. A passagem acontece no objetivo do jogo em ir de uma ponta a outra do tabuleiro, nos movimentos das peças e nos obstáculos do jogo até chegar no final do tabuleiro, na luta para atingir a vida eterna ou a imortalidade. O jogo envolve muita estratégia e raciocínio lógico, além de elementos de Geometria na confecção do tabuleiro.
O jogo mesclava educação, cultura, religião e distração ao dramatizar os desafios da alma para derrotar os vícios e renascer na vida além-túmulo. Desta forma, o jogo traz em si uma compreensão de vida e morte como um fluxo contínuo e imbricado, onde práticas similares são realizadas nos dois mundos, no material e no espiritual (CUNHA, 2019, p. 85).
De acordo com Cunha (2019, p. 85), para os egípcios, jogar o Senet era uma forma de se preparar para o espiritual já que o jogo seria praticado também no pós-vida. Mesmo sendo um jogo de competição entre duas pessoas, o Senet tinha uma forte ligação com o passado, possuíam painéis funerários representando partidas individuais com sacerdotes jogando contra os deuses, como no túmulo da rainha Nefertari (1295 – 1255 a.E.C.). Na tumba de Tutancâmon (1341 – 1323 a.E.C.) foram encontrados cinco kits de Senet, assim como foi encontrado o jogo na tumba de Hery-Re (2700 a.E.C.), um importante escriba e o primeiro dentista da história. Também, foram encontrados tabuleiros semelhantes, fragmentos do tabuleiro de Senet, registros nos papiros e pinturas em datas anteriores há mais de 3100 a.E.C., geralmente em túmulos, ou seja, o Senet existe há mais de 5 mil anos. Entre a 1ª e 6ª Dinastias, há pinturas diversas do Senet, entre elas, no túmulo do vizir Rashepses e outros registros que vão do Antigo ao Novo Império.
3- Tumba da rainha Nefertari. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nefertari_juega_al_Senet,_tumba_de_Nefertari.jpg. Autor: Jl FilpoC. Acesso em: 02/08/2024. |
Praticado (inicialmente como lazer e após com aspectos religiosos) em todas as classes sociais e com as regras modificadas ao longo dos tempos, o objetivo principal é a viagem das peças pelo tabuleiro simbolizando a alma passando pelo submundo até chegar à vida após a morte. As regras foram refeitas por algumas pessoas estudiosas do jogo, assim, havendo variações. Os tabuleiros eram feitos tanto no chão quanto em madeira, barro, faiança, marfim, ouro, pedras preciosas, etc., de acordo com a classe social. Dizem que o Senet é o jogo ancestral do atual Gamão.
O Senet é um retrato da religiosidade do Antigo Egito, da mesma forma que as pessoas escreviam cartas nas tumbas de seus falecidos, também praticavam o jogo, era uma forma de comunicação entre as pessoas vivas e mortas, com o objetivo de salvar a alma de quem se foi para o outro lado da vida, alcançando o renascimento espiritual por meio da circulação do ba (alma ou espírito) entre o céu e a terra, inclusive no mundo subterrâneo, numa viagem bem sucedida unindo-se com o deus Rá, ou deus Sol. O jogo permitia o ba se locomover entre os reinos dos vivos e dos mortos sem obstáculos.
Resumindo, o Senet era associado à comunicação com os mortos e à livre passagem e circulação do ba, que voava da tumba para voar no céu junto com Rá, voltando para a tumba no período da noite, reunindo-se com a múmia. Essa união com o cadáver mantinha a múmia viva espiritualmente. Se o ba fosse impedido de voltar devido aos obstáculos, então a múmia morreria e haveria totalmente a morte espiritual.
4- Tabuleiro de Senet. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tu_joues_ou_tu_joues_pas_%3F_(exposition)_-_jeu_du_senet.jpg. Autor: Benedito Prieur. Acesso em: 02/08/2024. |
Devido a sua importância para o povo egípcio, o Senet foi incorporado ao mito da criação do calendário solar, unindo Nut (divindade do céu) à Geb (deus da terra). Indignado, o deus Sol (Rá), proíbe Nut de dar à luz em qualquer um dos 360 dias do ano, em que Nut pede ajuda a Thoth (deus da sabedoria, da escrita e da Matemática), que responde desafiando Khonsu (deus da lua) a jogar Senet com a aposta de vencer e tirar uma porção da luz de cada dia do ano. Com a vitória de Thoth, ele ganhou mais cinco dias no ano, e assim Khonsu sacrifica cinco dias completos, elevando para 365 dias um ano inteiro, estabelecendo o calendário solar. Nesses cinco dias, Nut e Geb tiveram cinco filhos: Osíris, Seth, Ísis, Néftis e Hórus.
Regras do Senet
Devido a complexidade das regras, assim como dos significados nas imagens contidas no jogo, indicamos o livro digital gratuito de Débroa Alfaia da Cunha: Mancalas e tabuleiros africanos: contribuições metodológicas para educação intercultural, neste link: https://www.laab.pro.br/projeto/publicacoes/LAAB_e-book%20Mancalas%20e%20tabuleiros%20africanos-2019.pdf
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Conheça a história escondida da Matemática, na qual o epistemicídio e o racismo científico camuflam e apontam como única, confinando a origem da Matemática e toda a ciência na Grécia e outros países europeus.
África é muito além do berço da humanidade, mas também da Matemática, medicina, tecnologia, astronomia, calendário, engenharia, e de diversas áreas do conhecimento humano. O livro é um mergulho aprofundado na História da Matemática no qual a sua origem e desenvolvimento é oriundo dos territórios do continente africano. Ao passo que apresenta os artefatos e fatos da história, o livro perpassa por alguns países como África do Sul, Egito, República Democrática do Congo, Líbia e Mali.
O livro “A Origem Africana da Matemática” inicia com uma elucidação sobre a Lei 10.639/03 que insere o ensino sobre África e povos afro-brasileiros nos currículos escolares, assim como uma breve teoria sobre decolonialidade, Etnomatemática e Afroetnomatemática. Apresenta a estrutura mais antiga da humanidade, oriunda da astronomia, os objetos que provam a origem e desenvolvimento da Matemática, além das primeiras universidades (todas são do continente africano) e alguns reinos e impérios africanos.
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Referências
BUDGE, E. A. Wallis. O livro dos mortos do antigo Egito. São Paulo: Madras, 2021.
CUNHA, Débora Alfaia da. Mancalas e tabuleiros africanos: contribuições metodológicas para educação intercultural. Castanhal, PA: Ed. do Autor, 2019. Disponível em: https://www.laab.pro.br/projeto/publicacoes/LAAB_e-book%20Mancalas%20e%20tabuleiros%20africanos-2019.pdf. Acesso em 02/10/2024.
NASCIMENTO, Elisa Larkin. A matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008.
TODÃO, Jefferson dos Santos. Jogos Matemáticos do Continente Africano. Revista Ocupação Maí / Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. – n. 2 (dez. 2021). – São Paulo: SME / COPED, 2021, p. 79 a 90. Recuperado de https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2021/12/Mai-2-Artigo-7.pdf. Acesso em: 21 de julho de 2024.
TODÃO, Jefferson dos Santos. A Origem Africana da Matemática. São Paulo: Editora Ananse, 2024.
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