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O Programa Etnomatemática na Educação de Jovens e Adultos

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Apesar da dificuldade na Matemática escolar, em que são avaliados somente pela Matemática formal, por meio de memorizações, provas e testes padronizados, os alunos da EJA utilizam, e muito, a Matemática em seu cotidiano. A todo momento, realizam cálculos, medidas, geometria e alguns conceitos de Física, de um modo peculiar de cada profissão, mas na escola aprendem uma Matemática abstrata e desconexa do que praticam, tornando um fracasso no atual modelo de ensino, que segue as tradições do sistema elitizado europeu.

Uma das principais características da Educação de Jovens e Adultos (EJA) são as experiências de vida de seus alunos. Geralmente, pessoas que nasceram em pequenas cidades, em sua maioria oriundos da região Nordeste, que tiveram que abandonar os estudos quando eram crianças pela necessidade de trabalhar. Em sua adolescência ou na fase adulta, migraram para grandes cidades, principalmente na região Sudeste, para trabalhar e tentar melhorar a condição de vida. Adolescentes, fruto do fracasso escolar, muitos deles filhos de migrantes, também ingressam nos cursos de EJA. Há escolas que atendem alunos de 15 a 80 anos de idade. Moradores de bairros da classe baixa, em periferias, atualmente trabalham na informalidade, que mesmo com seus trabalhos essenciais para a população, são poucos valorizados e até discriminados. Trabalham o dia inteiro e frequentam a escola no período noturno. São pedreiros, carpinteiros, marceneiros, feirantes, camelôs, encanadores, eletricistas, lavadores de carros, costureiras, cozinheiras, trabalhadores do comércio, entre outros.

O Programa Etnomatemática na Educação de Jovens e Adultos
Imagem retirada do site: http://sesisc.org.br/educacao/sesi-matematica 
Devido ao grande tempo sem estudar, os alunos da EJA, em sua maioria, possuem dificuldades de aprendizado. O ato de ler, de escrever e de calcular, principal objetivo do ensino escolar, não é tão simples para os alunos dessa modalidade de ensino. Principalmente a Matemática, uma disciplina vista como privilégio de pessoas inteligentes, é uma grande barreira para esses alunos. 

Apesar da dificuldade na Matemática escolar, em que são avaliados somente pela Matemática formal, por meio de memorizações, provas e testes padronizados, os alunos da EJA utilizam, e muito, a Matemática em seu cotidiano. A todo momento, realizam cálculos, medidas, geometria e alguns conceitos de Física, de um modo peculiar de cada profissão, mas na escola aprendem uma Matemática abstrata e desconexa do que praticam, tornando um fracasso no atual modelo de ensino, que segue as tradições do sistema elitizado europeu. 

A LDB determina que a escola deve preparar o aluno para o mundo do trabalho e o PCN aponta que deve-se respeitar a história de vida, os conhecimentos informais e a condição social do aluno, mas que este deve acompanhar o desenvolvimento científico e tecnológico. Como não há uma política educacional que valoriza o trabalho na EJA, nos quais os alunos já estão inseridos no mercado de trabalho e utilizam a Matemática em seu contexto social por décadas, há uma barreira para o professor lecionar nessa modalidade de ensino. 

Nos cursos de Licenciatura em Matemática, não há preparação adequada para o professor lecionar no ensino básico e na EJA. Na universidade é ensinada a Matemática europeia dos séculos XVII e XVIII, com conteúdos próprios para outros cursos, principalmente de Engenharia. Pouco se fala em didática, de como lecionar, e das reais necessidades do sistema de ensino brasileiro. Com uma formação não adequada, o professor chega à sala de aula como um mero transferidor de conhecimentos, domesticando os alunos em decorar fórmulas, muitas vezes sem saber o motivo das mesmas, reverenciando a educação bancária no qual se deposita conhecimentos.

A educação da EJA é um exercício de criatividade e representa, muito mais do que simplesmente transmitir ao aluno teorias e conceitos prontos, ou seja, é preciso fornecer ao aluno os instrumentos que são próprios da sua cultura. Os educadores da EJA devem utilizar estratégias diferenciadas, interagir com seus educandos, conhecer as diversidades culturais e sociais presentes em sua sala de aula, buscando novos conhecimentos para serem trabalhados (FREIRE, 1996).

O Programa Etnomatemática na Educação de Jovens e Adultos

Já Ubiratan D’Ambrosio, cita Beatriz D’Ambrosio, as características peculiaridades de um bom professor, no ensino da Matemática, que são: 

1. Visão do que vem a ser a Matemática;

2. Visão do que constitui a atividade Matemática;

3. Visão do que constitui a aprendizagem da Matemática;

4. Visão do que constitui um ambiente propício à aprendizagem da Matemática.


O Programa Etnomatemática vai ao encontro com as propostas de Paulo Freire, ampliando os conhecimentos matemáticos dos alunos, representando seus saberes cotidianos e de sua cultura. A Matemática tradicional não é desvalorizada, mas precisa estar contextualizada com a realidade dos alunos, afinal, tudo que fazemos é Matemática. Deve-se valorizar a Matemática realizada no cotidiano, trazendo um debate para o ambiente escolar com todas essas manifestações culturais. 

[...] um importante componente da Etnomatemática é possibilitar uma visão crítica da realidade, utilizando instrumentos de natureza matemática. Análise comparativa de preços, de contas, de orçamento, proporciona excelente material pedagógico (D`AMBROSIO, 2001, p.23). 

Diversos alunos trabalham diretamente com os conceitos de medidas de comprimento, perímetro, área, volume, porcentagem e cálculos em geral, e na sala de aula só são válidos os cálculos por meio de fórmulas. 

De acordo com alguns estudos feitos com alunos da EJA, mesmo de outra forma, cálculos matemáticos são feitos de maneira correta, comparados com a Matemática formal, mas sem conter as fórmulas exigidas no sistema escolar. Como dizia Paulus Gerdes, estudando uma demonstração, raramente se percebe como se descobriu o resultado. O caminho da descoberta é bem diferente da estrada pavimentada da dedução. Poetizando:

A via da descoberta abre-se serpenteando por um terreno de vegetação densa e cheio de obstáculos, às vezes aparentemente sem saída, até que, de repente, se encontra uma clareira de surpresas relampejantes. E, quase de imediato, a alegria do inesperado “heureka” (“achei”, “encontrei”) rasga triunfantemente o caminho (GERDES, 1993).

A maioria dos alunos da EJA utilizam a Matemática oralmente, sem passar os cálculos para o papel. É assim com o feirante, que ao receber uma nota de R\$ 50,00 para dar troco a uma compra de R\$ 27,00, no momento em que entrega as notas e moedas de troco, dizendo: 27, 28, 29, 30, 40, 50. Também com o vendedor que no semáforo sabe exatamente a quantidade de carros a pendurar seus produtos nos retrovisores dos carros, voltar para recolher esses produtos e ainda vender, dar troco num tempo exato de fechamento e abertura do semáforo, sem ao menos utilizar o relógio para calcular o tempo. E assim o pedreiro, o marceneiro, a costureira fazem orçamentos sem ao menos, na maioria das vezes, calcular medidas de comprimento formalmente. Quando formalizam no papel, é comum ver cálculos da seguinte forma: 

1) Sete centenas mais trinta unidades = 70 + 30 = 730.

2) 200 – 35, “se fosse 30, dava 70. Mas é 35, então é 65, 165”.

3) Valor total de 15 carros a R\$ 50,00 cada um: “Dez ia dar 500; 5 dava 250, então dá R\$ 750,00”. 

4) Calcular 35% de 300

10% = 30 + 10% = 30 + 10% =30 + 5% = 15 (metade de 10%). 

30 + 30 + 30 + 15 = 105

Obs.: É comum os alunos saberem que 50% é metade do total, que 25% é a quarta parte e que 10% é a décima parte, no total de 100%. 

Nesses exemplos, podemos observar o cálculo de porcentagem sem fórmulas, assim como adição e subtração de um modo pessoal. Em diversos estudos há comparações com os métodos de calcular formais e pessoais de acordo com o meio cultural, tanto de cálculos com as quatro operações fundamentais, como em cálculos de proporção, medidas de comprimento, áreas, porcentagem, entre outros.

Para um trabalho exemplar, realmente proveitoso na EJA, o professor deve valorizar, incentivar e mediar os modos de contar, medir, comparar, de acordo com a cultura dos alunos, socializando e contextualizando a troca de ideias e experiências desses alunos, diferente dos livros didáticos que não oferecem conteúdos que instiguem a curiosidade e prática dos educandos. Seria necessária uma reforma no sistema de ensino que inclua o Programa Etnomatemática na formação dos professores, para que estejam aptos a desenvolver as práticas utilizadas no cotidiano dos alunos. 


Obs.: Esse texto faz parte do meu Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Pedagogia, com o tema: O Programa Etnomatemática na Educação de Jovens e Adultos. Veja o nosso artigo: Breve histórico da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e O Programa Etnomatemática.


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Grande abraço e bons estudos! 

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Matemática é Fácil!: O Programa Etnomatemática na Educação de Jovens e Adultos
O Programa Etnomatemática na Educação de Jovens e Adultos
Apesar da dificuldade na Matemática escolar, em que são avaliados somente pela Matemática formal, por meio de memorizações, provas e testes padronizados, os alunos da EJA utilizam, e muito, a Matemática em seu cotidiano. A todo momento, realizam cálculos, medidas, geometria e alguns conceitos de Física, de um modo peculiar de cada profissão, mas na escola aprendem uma Matemática abstrata e desconexa do que praticam, tornando um fracasso no atual modelo de ensino, que segue as tradições do sistema elitizado europeu.
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